quarta-feira, 11 de março de 2009

ANDAR

ANDAR


A Medicina tradicional Chinesa afirma categoricamente que a causa primeira de todos os desequilíbrios está nas pernas. Nas pernas! Argumenta que para se atingir uma meta - meta digna - é mister que se caminhe para ela, pois esta jamais está “aqui” e sim, sempre estará “ali”, mais ou menos perto, não importa. E, o fato de não se atingir a meta proposta – a razão maior da vida pessoal – é indiscutivelmente frustrante.

Assim como metas medíocres, nas quais o andar trôpego é característica, têm o mesmo sabor de frustração, de incompetência, de inabilidade.
E a mente dos indecisos e covardes não dispensa argumentações aparentemente convincentes: das mais rudimentares patologias aos impedimentos sutis e “irrecusáveis”. E a meta perdida rigorosamente isenta de culpa sedimenta a patologia responsável.

Nas pernas! Estará sempre nas pernas. Crenças mil, mas serão as pernas – as âncoras! Paciente A.M., anos, 70 anos: “Andar não rende!”. Paciente E.L., 54 anos: “Tinha mil planos, mas as pernas entrevaram!”. Paciente E.L., 76 anos: “Não tenho pernas!”. Pacientes sem meta, pacientes com um mundo pequeno. Ou ambos.

Metas fantasiosas descaracterizam a estrutura original deformando a sustentação conforme. São as anomalias de postura e conseqüente deformidade óssea. Metas fantasiosas, igualmente, descaracterizam a marcha. Pés voltados para fora como os voltados para dentro não suportam dois passos. E não há meta que mereça aplauso que esteja a dois passos. São causas de frustração quando ou se aliena (postura psíquica) ou se compensa com remendos (formação “x”, “o”, etc.) O impedimento continua nas pernas. Nas pernas! E patologias incontáveis preenchem catálogos de nomes e números codificados pela OMS sem menção real da causa original: as pernas.

Patologias específicas da coluna não estão desvinculadas da mesma causa: as pernas. A postura diante do Universo quando não ampla e saudável, apresenta deformações tais como cifose e seu agarramento ao solo ou túmulo; a lordose e seu distanciamento da interação social e afetiva; a escoliose e a inevitável torção do cotidiano.

Cuide das pernas, abra os braços e caminhe em direção a sua meta. Meta. As pernas são o recurso irrecusável. À meta! À razão maior da vida: uma vida bonita.


ivkorsch@gmail.com
/a

Um comentário:

  1. O bonde passa cheio de pernas:

    pernas brancas pretas amarelas

    Para que tanta perna, meus Deus, pergunta o meu coração.

    Porém meus olhos

    não perguntam nada.

    (Poema de sete faces)

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